7.10.05

Oração

Eu ia escrever uma piada. Sobre o Brigadeiro do Pastoreio, porque aqui, dizem, não existe negrinho. Por causa da Cíntia e de todos nós, porque a gente perde as coisas.

Mas aí eu achei o poema. O poema é do Augusto Meyer, modernista gaúcho. Um bom poeta. Aqui em São Paulo não se sabe quem ele era. Mas em Porto Alegre também não se sabe. É bom praquela gente toda de lá que diz que aqui não se valoriza o que é bom e vem de lá. Oras, lá também não.

O poema é lindo. Abdiquei da brincadeira.

(Lá na casa da minha avó se falava da lenda -- meu tataravô foi quem amarrou o Negrinho no formigueiro)

****
Oração do Negrinho do Pastoreio

Eu quero achar-me, Negrinho!
(Diz que você acha tudo)
Ando tão longe, perdido...
Eu quero achar-me, Negrinho:
A luz da vela me mostre
O caminho do meu amor

Negrinho, você que achou
Pela mão da sua madrinha
Os trinta tordilhos negros
E varou a noite toda
De vela acesa na mão
(Piava a coruja rouca
No arrepio da escuridão
Manhãzinha, a estrela d'alva
Na voz do galo cantava
Mas quando a vela pingava
Cada pingo era um clarão)
Negrinho, você que achou
Me leve à estrada batida
Que vai dar no coração

(Ah! os caminhos da vida
Ninguém sabe onde é que estão!)

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